“Muito se discute sobre o uso de alimentos para fins estéticos: receitas caseiras com mel, abacate, azeite entre outros são sucesso na internet e prometem um cabelo mais forte, bonito e brilhoso de maneira barata e acessível. Mas será que seu uso é seguro?
EFICÁCIA DE UTILIZAR ALIMENTOS NOS CABELOS
Muitos produtos industrializados possuírem ativos provenientes dos alimentos que encontramos em nossa cozinha — quem nunca comprou um shampoo com extrato de abacate para hidratar os fios?
Logo, você pode pensar que o melhor é cortar o caminho e ir direto para a fruta, certo? Na verdade não.
A penetração dos agentes ativos dos alimentos in natura no fio de cabelo é muito fraca, ou nenhuma, devido ao tamanho grande de suas moléculas.
A DIFERENÇA DOS ATIVOS NOS COSMÉTICOS
Se aquele seu abacate e azeite que estão na cozinha não ajudam os fios, por qual motivo vemos tantos produtos nas lojas de cosméticos com esses ativos?
Carolina Milanez, dermatologista especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que a indústria cosmética investe em uma tecnologia de cargas elétricas, quebrando o tamanho das moléculas de seus componentes para que haja uma estabilização dessas cargas dos fios (o que deixa os cabelos com menos frizz). Com o tamanho adequado das moléculas, é possível que o ativo penetre as mais profundas camadas, resultando em nutrição, reconstrução e hidratação superiores a produtos que atingem apenas a camada mais superficial.
E as cacheadas?
A cabeleireira Samantha Cunha, que em sua página no Instagram fala muito sobre cuidados com cabelos naturais e em transição, conta que a realidade de máscaras caseiras como única alternativa de cuidado para as cacheadas não é mais plausível.
“Até o ano de 2013, o Brasil não contava com grandes marcas de cosméticos interessadas no bem-estar da mulher de cabelo natural. Fazer a transição capilar e voltar ao estado natural do cabelo remetia aos cuidados herdados das avós e das mães que cuidavam de seus cabelos naturais com alimentos in natura”, conta. “Hoje, existem produtos de alta performance e tecnologia capazes de entregar resultados infinitamente superiores em comparação aos do passado. O mercado mudou!”
RISCOS DE UTILIZAR ALIMENTOS NOS CABELOS
Além de não ter eficácia, alguns alimentos podem até mesmo prejudicar o seu cabelo.
Proliferação de bactérias e fungos
“O azeite encontrado nos supermercados não tem função cosmética, já o mel vendido tem altos índices de açúcar na composição e o abacate puro não consegue adentrar a fibra capilar”, conta Samantha Cunha, cabeleireira especialista em corte e colorimetria em cabelos ondulados, cacheados e crespos. Todo esse excesso, quando não retirado corretamente pode até beneficiar a proliferação de fungos e bactérias na sua cabeça.
Alergias
Outro perigo dos procedimentos caseiros é o risco de alergia. O vinagre (usado muitas vezes com a proposta de dar brilho e diminuir o frizz), por exemplo, por ter uma acidez intensa, pode acabar ressecando os fios e causar dermatite, se entrar em contato com o couro cabeludo.
Cabelo opaco
No menor dos problemas, o que o uso de alimentos pode causar são fios opacos, sem brilho. Resultado de resquícios dos alimentos não removidos por completo.
E OS ÓLEOS VEGETAIS?
O artigo científico “Influência de óleos vegetais brasileiros na resistência mecânica da fibra capilar” explica que os óleos tem a função de lubrificar e preencher pequenas fissuras na cutícula capilar, ou seja, na parte externa do fio.
“Eles formam um filme na superfície do cabelo que ajuda a selar as cutículas e manter a água dentro do fio. Ao contrário do que muitos pensam, eles não tem a capacidade de hidratar e sim de não deixar que o fio perca a sua própria hidratação. Já o óleo de coco, por conter moléculas menores é o único com capacidade de penetrar na haste capilar e com isso, tem ainda o benefício de evitar a perda de proteínas. Por isso é dos preferidos quando o assunto é cabelo. Mas os óleos de abacate e de oliva também são boas opções para umectação ou adicionar as máscaras”, recomenda Paula Amorim, dermatologista responsável pelo núcleo de tricologia, da Clínica Juliana Piquet.
“Porém, eles sozinhos não conseguem tratar o córtex e, portanto, não substituem o uso de máscaras de tratamento“, completa Samantha.
Além disso, seu uso também não deve vir do produto da cozinha. “As umectações com óleos devem ser feitas com óleos puros prensados a frio e com fins cosméticos. Pode ser óleo de abacate, cártamo, macadâmia e até mesmo o de oliva e coco.”
INVISTA NOS ALIMENTOS — NA DIETA
Existe um jeito certo para que os alimentos ajudem na sua saúde capilar: através da ingestão! Investir em produtos apropriados não adianta de nada se a maneira como você se alimenta não está correta.
Água para tudo funcionar
Primeiro de tudo: hidrate-se. Um bom consumo de água ajuda a todo nosso organismo funcionar melhor e com toda certeza seus cabelos irão se beneficiar disso.
Número #2 em dia
Não adianta comer tudo que é necessário para manter um cabelo lindo de dentro para fora se a absorção intestinal não estiver íntegra.
“Ingerir alimentos ou suplementos específicos é importante mas, se não são absorvidos, saem pelas fezes e não fazem o trabalho que precisa ser feito. Por esse motivo é de suma importância observar o funcionamento do intestino, a integridade das fezes e estar atento a sintomas de disbiose ou alguma síndrome que atrapalhe a absorção”, conta a nutricionista Camilly Gabry Houaiss.
Vitamina C para otimizar
Manter níveis adequados de ferro no organismo é de extrema importância e, segundo a profissional, na hora de consumir é importante otimizar a digestão e absorção com fontes de vitamina C como laranja e acerola.
Proteínas para o crescimento
“Aumente a ingestão proteica. Uma dieta pobre em proteínas ou muito restritiva pode prejudicar muito o crescimento saudável dos fios.”
Vitaminas e minerais
O zinco, contido na semente de abóbora, feijão, amêndoas e amendoim, tem função primordial para o crescimento dos fios. “Mas é preciso pensar também no couro cabeludo e não só no fio, portanto, uma alimentação rica em antioxidantes, vitaminas A e C pode influenciar positivamente além de evitar a queda e a despigmentação. Biotina, cálcio, vitamina B12 e vitamina E também estão envolvidos no processo de saúde capilar”, finaliza.
COMO CUIDAR DO CABELO EM CASA
Agora que você vai deixar o abacate e o ovo onde devem estar (na cozinha, bem longe do seu cabelo), há alguns fatores importantes que devem ser considerados na hora de cuidar da saúde dos fios, sendo o primeiro deles o couro cabeludo:
Segundo Carolina, ele deve ser muito bem higienizado através das lavagens (Não se esqueça que o acúmulo de produtos e sujeira no mesmo pode afeitar negativamente o crescimento e saúde dos fios). Mas, diferente do que muita gente pensa, não há um número mágico que determina a quantidade de lavagens que uma pessoa deve fazer por semana. Ele muda para cada um e depende da característica do tipo de cabelo que cada pessoa possui. Oleosidade, ressecamento, dermatite seborreica, química devem ser levados em consideração.
“Para cabelos muitos danificados, ressecados ou crespos, minha orientação é de lavar pelo menos a cada 7 dias”, diz Carolina. “Indico também o uso de shampoo anti-resíduos a cada 15-30 dias”.
Para completar, de uma a duas vezes na semana, usar uma máscara capilar que tem um poder hidratante maior, ficando atenta pois algumas máscaras precisam ser complementadas com condicionador após o uso. “Não indico como rotina usar secadores e pranchas. Mas quando for usar, o ideal é aplicar um protetor térmico nos fios antes” ressalta a dermatologista.”
Créditos – Fonte da matéria na íntegra:
https://boaforma.abril.com.br/beleza/alimentos-no-cabelo/